segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Olhos de outro Olhar de outros Olhos

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Olhos cinzentos atrás de olhos cinzentos,
Já foram azuis, verdes, castanhos e albinos,
Olhos que viram a cor de muitos tormentos,
Umas vezes muito frios,
Das suas cores vazios,
Despigmentados de profundos sentimentos,
Tão profundos quanto os belos olhos divinos,
Olhos de qualquer cor, mas sempre cristalinos,
Talvez lhes houvesse um brilho por momentos,
Vindo do mais brilhante entre os destinos,
Ás cores de olhos tardios,
Cedo, de efeitos sombrios,
Se fizeram sombra de olhares repentinos,
Olhares perdidos entre perdidos pensamentos,
Algures, em jardins de floridos olhos femininos,
Onde os homens acontecem sem fundamentos,
   Olhos e olhar em desvarios…
Olhos delirantes em seu olhar de negritude,
Febris em seu olhar por outras cores coloridos,
Mas, da cor de seus próprios olhos desprovidos,
Como se se a verdadeira cor fosse inquietude,
Transformado olhar de sossegada atitude,
   Das cores do seu sossego despidos,
Travestidos de falsa virtude…
Inferno de olhos vadios,
   De causar arrepios!...

Estes olhos não são meus,
Lembro-me de os ver em ti,
Esses olhos não são os teus,
 Os olhos com que nunca vi,
  Aos meus olhos de Deus!...
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sábado, 18 de fevereiro de 2017

A Curva do Ângulo Recto Manipulado

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O planeta deixou de ser redondo,
Afigura-se uma nova consciência  desenquadrada,
Em cada esquina há sentimentos que se vão pondo,
  Do santíssimo triângulo, sobra quase nada!...

Pouco mais resta a esta humanidade disforme,
Cheia das mais desumanas formas com que se ilude,
Já não há enviados crentes em Cristo que a informe,
  De forma que, por Ele, a humanidade mude!...

Desenham-se novos estilos equidistantes de leitura,
Capazes de não ler as distâncias da inconstante figura,
 Dos ângulos rectos, distantes do que seria de esperar;

A morte arredonda-se no choque da quadratura,
Procura-se a vida no choque do vício da morte circular,
   Cada recta gira à volta da impossibilidade regular!...
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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Gene das Palavras Filhas da Puta

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Em minha boca impoluta,
Onde minha língua se articula em pureza,
Movem-se muitas palavras filhas da puta,
E muita alegria bem disfarçada de tristeza,
    Que minha consciência, essa tristeza refuta!...

Comovem-me as minhas palavras urdidas,
Cheias de beleza miserável e comoventes,
Falam de sofrimento, ai como são sofridas,
Palavras sempre irresistíveis e influentes;
Muitas, as tenho escondidas entre dentes,
As de regozijo, dou-as como desaparecidas,
Todos eu entristeço,
Por qualquer preço,
Observo o silêncio das lágrimas comovidas,
   Prémio que mereço!...

Em minha boca impoluta,
Há uma pérfida língua, quase divina,
Que tece palavras de índole muito fina,
Dá forma macia aos ouvidos de quem escuta,
É nas palavras que entredentes se esconde a surdina,
   Muito puros parecem os genes das palavras filhas da puta!...

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sábado, 4 de fevereiro de 2017

Soneto à Portuguesa (Caso Sério do Putedo)

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choveram sedosas rendas lá do alto,
E mais finas vestes desnudas também,
Gastei a vergonha em sapatos de salto,
    Dei por mim na esquina e sem vintém!...

disseram-me em juras que andar nua,
Era meio caminho feito para me vestir,
Vi-me, foi despida nas esquinas da rua,
   Sem saber pra que mais vergonhas cair!..

É muito fodida esta puta de desilusão,
Hoje, acusadoras apontam-me o dedo,
Adivinho-as sem remorsos, só intenção;

Mas, já nada das sérias me mete medo,
Nem ao corpo, à alma ou meu coração,
   Pois, são elas o caso sério deste putedo!...
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Mimosas de Fevereiro (Flores Tardias)

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Ressequidas mimosas que não floresceram,
Nesses montes solitários dos dias de janeiro,
Muitos olhos cansados desistiram primeiro,
Os olhos que, em vigília e secando, viveram;
Sequiosas lágrimas de mimosas escorreram,
Amareladas e secas, sem sabor, nem cheiro,
Tardias as flores que da vida se esconderam,
Talvez floresçam no frio comum de fevereiro,
E as flores acenarão, sem cor,
Que foi a vontade do Criador,
Dar à natureza a incerteza do ser verdadeiro,
Verdade das almas que lindas flores colheram,
Flores cortadas sem amor,
Por quem diz que as mimosas já morreram!...

Morremos nós também,
E todos somos mimosas,
É mimosa e é nossa mãe,
São elas flores graciosas,
Anjos de asas milagrosas,
Voo que da vida  provém,
Fonte de vidas preciosas,
   Água que sabe tão bem!...

Não sorrimos,
Elas murcham,
E nós não florimos,
Como flores murchamos,
Como murchas flores caímos,
Como flores que às flores saímos,
São as lindas mimosas que nós amamos,
Enchem-nos de mimos e por mais clamamos,
 Quando as mimosas morrem, suas flores descobrimos,
    Queremos ser como as flores que, sem saber, desprezamos!...
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