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terça-feira, 12 de setembro de 2017

HOSPITAL (Familiar Cais do Inferno)

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Mais, sempre mais,
Espera a morte no cais,
Veste-se a morte de timoneiro,
Vende salvação a troco de dinheiro,
Por dinheiro anestesia a dor viva dos ais,
Pode ser médico ou santo milagreiro,
Ou, aos médicos das barcas, iguais,
    Iguais ao desprezo de enfermeiro!...

Azar da sorte a quem o azar calha,
Calha a quase todos, sempre cedo,
Mataram o “olha que Jesus ralha”,
E, qual esperança feita de palha,
Há o inferno que mete medo,
Fogo que arde em segredo,
Chama, inferno e mortalha,
Condenação ao degredo,
    Ai, que Deus lhe valha!...

Fardas inocentes de mau agouro,
Batas brancas de branco imaculado,
Alimentam o insaciável comedouro,
É o infeliz doente mal alimentado,
Com o destino nunca imaginado,
    Com que alimenta o matadouro!...

Há um espectáculo que distrai,
Assiste uma plateia de doentes,
Há mais um doente que cai,
Riem Estados entre dentes;
Filhos, de alívio suspiram,
Da sua ingratidão muito rentes,
Juram que seus doentes nunca viram,
E, se por tão abandonados eles caíram,
Levantam-se os filhos, de suas culpas ausentes,
Silenciosos, agradecem aos carniceiros confidentes,
    Que, com eles, a morte do fardo consentiram!...

Mais, sempre mais,
Em cada hospital há um cais,
Onde, na barca, aguarda o barqueiro,
Que, a troco do tão sujo e vil dinheiro,
Leva para o inferno os derradeiros ais,
     Antes que a salvação chegue primeiro!...
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sábado, 22 de junho de 2013

Vazio dos Trapos

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Áridos olhos, aqueles,
Deserto de trapos do tempo sacudidos,
Evaporar-se em vida já não vêm, eles,
Espelhos cobertos de trapos!...
Cerzidos os velhos remendos, neles,
Tropeçados pespontos no tempo caídos,
Recuo nos farrapos do viço descosidos,
Cosidos os olhos por cílios deles!...
Espelhos cobertos de trapos!...

Emurchecem secos, os ditos, em fiapos,
Descosendo-se o limite, rasgando se vai,
O rasgado pedaço da língua cosida se cai,
Palavras se costuram na língua de trapos,
    O ser o que foi que naquilo que é se trai!..

…como se uma toalha do mais puro linho,
Não passasse de um envelhecido retalho,
Tão só é ser toda a solidão num pedacinho,
Aberto é o ponto retalhado pelo bandalho…
Irreflectidos no ser, sem o ser, os farrapos,
Remendados a sós, os títulos prostituídos,
   Áridos são os espelhos cobertos de trapos!...

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terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu Flutuo

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Eu flutuo!...
 Enquanto os outros caminham e me vêm caminhar a uma distância inexistente do chão que pisam, eu flutuo um pouco, muito pouco, acima do chão que os pisa!... Eu flutuo, sem peso, sem forma… talvez seja a forma de um peso excessivo que se forma, não por ele mesmo, não pelo que pesa na sua própria consciência, mas…
É um peso esmagador,
Ocupante,
Invasor,
Perturbante...
Demasiado petulante,
De um pobre sonhador,
Deitado ao desamor,
    Hehehehe… Galante!...
Eu flutuo!... Serpenteio entre as escamas esquecidas nas camas perdidas, das companhias ou do companheiro… entre o valor perdido do dinheiro… e da raiva que morde os que perderam algo, sem saberem que, ao perderem-se, foi tudo que perderam. Procuram-se entre as pessoas que não flutuam, entre as pernas daqueles que caminham entre eles, imóveis… entre o interior das coxas onde o sexo repousa, dorme e… dorme. É tanto o sono que não sabe se dorme. É tanto, o interior que morre!...
Não morre por morrer,
Vai morrendo sufocado,
Pesado,
Morre por não foder…
Envelhece por envelhecer,
Cansado,
   Sem prazer!...
E, pelos outros, eu quase amuo!...
E é pelos outros que, no caminho deles, eu flutuo!...
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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Furúnculos e homúnculos





Porque hoje é dia de incontinentes verbais,
E de todos aqueles que por insanidades mentais,
Encontram em cada dia novas formas de mentir,
Aqui lhes dedico algo que não vem nos manuais,
Se bem que não seja espectável fazê-los refletir!...
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Era um saco cheio de nauseabundos dislates,
A pele tecia-se numa asquerosa serapilheira,
Duas ervilhas já podres em vez dos tomates,
Eram as partes de seus disformes combates,
Forma abjeta, a daquela merda tão rasteira,
Abandonado entre o vómito e a estrumeira,
Tortuosa mente de ressabiados disparates,
    Torturado pelo cheiro da própria asneira!...

Aquele saco cheio de merda tão repelente,
Dizia-se homem e mulher, só não era gente,
De quando em vez,
Tresandando a estupidez,
Despia a serapilheira, o infeliz travestido,
E sua mente de sua demente merda já esquecido,
Com o seu coração imundo desfilava sordidamente,
Rastejando em sua forma de ser distorcido,
Como coisa abstrata que já não sente,
A diarreia em que, inevitavelmente,
   Já se desfez, levando-se consigo!...
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Aquele saco de pus virulento,
Dizia-se mulher abandonada,
Deixada ao abandono… sim,
Por não merecer ser amada,
É seu o miserável tormento,
Disseminando ódio sem fim,
Contra as palavras do vento,
O culpado da sorte infetada,
Do seu coração peçonhento,
   Que mais valia estar cheio de nada!...

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Esta é a estória possível sobre uns podres furúnculos,
Á beirinha de um ataque de nervos prestes a rebentar,
Tamanha dor e tais intumescimentos dão que pensar,
E dão que pensar os amolecimentos dos homúnculos,
     Que, quer rebentem ou não, mais vale não os cheirar!...

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