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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

À Distância de Nós

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Tão próximos de nos aproximar,
Pela distância a que nos entregamos,
Por estar mais perto não nos esforçamos,
A desculpa das palavras tomou nosso lugar,
Já não sentimos o amor de onde devíamos estar,
Quem nos ama espera por nós, mas não chegamos,
Nem lhes damos um sentido abraço e logo nos vamos,
Procuramos na maior distância o sentido de abraçar!...
   
Somos apenas o vazios das palavras do que nos resta,
Somos o resumo do nosso texto por todos partilhado,
Somos um resto de nós resumido,
Somos o livro em branco mal lido,
Somos a distância que nada nos dá e nada nos empresta,
Somos palavras de um livro do humano juízo esvaziado,
Somos desumanos sempre tristes e sempre em festa,
Somos o próximo que se aproxima do que detesta,
Somos matéria em movimento sem significado,
Somos o livro que todos lêem e não presta,
Somos palavras de um livro apressado,
Somos… nosso vómito engolido,
Somos o que podíamos ter sido,
O que passou sem passado,
      Sem ter-se apercebido!...

Tão distantes estamos de um abraço,
São tantos os abraços dados por dar,
É o grato amor  um bem tão escasso,
    E desse amor tantos falam por falar!...


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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Muito Fala Quem...

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Fala muito aquele que muito fala,
Fala vazio do que em si não cabe,
Fala muito aquele que não se cala,
    Demais fala quem de  pouco sabe!...

Muito fala, esse que de si não fala,
Muito fala esse que fala do alheio,
Muito fala esse quem por si se cala,
     Muito fala esse que de si está cheio!...

Demais fala e diz nada ter a dizer,
Quem a ninguém fala do que deve,
 Muito fala a palavra sem honra ter;

Pouco fala quem nada tem a temer,
Quem fala com sua consciência leve,

     Nada fala por a ninguém nada dever!...
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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Gene das Palavras Filhas da Puta

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Em minha boca impoluta,
Onde minha língua se articula em pureza,
Movem-se muitas palavras filhas da puta,
E muita alegria bem disfarçada de tristeza,
    Que minha consciência, essa tristeza refuta!...

Comovem-me as minhas palavras urdidas,
Cheias de beleza miserável e comoventes,
Falam de sofrimento, ai como são sofridas,
Palavras sempre irresistíveis e influentes;
Muitas, as tenho escondidas entre dentes,
As de regozijo, dou-as como desaparecidas,
Todos eu entristeço,
Por qualquer preço,
Observo o silêncio das lágrimas comovidas,
   Prémio que mereço!...

Em minha boca impoluta,
Há uma pérfida língua, quase divina,
Que tece palavras de índole muito fina,
Dá forma macia aos ouvidos de quem escuta,
É nas palavras que entredentes se esconde a surdina,
   Muito puros parecem os genes das palavras filhas da puta!...

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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sem Medo das Palavras

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Desafiava a palavra mais forte,
Encarava-a de frente,
E, de repente,
Num golpe de fino recorte,
Sem perder o porte,
Desferia um golpe certeiro na língua da serpente,
Cortando-lhe o verbal veneno da bifurcada sorte,
Para que a crua verdade ficasse bem assente,
     No traje da vida e na nudez da morte!...

Assim viveu,
Sem medo das palavras ditas,
Sem medo do que sempre foi seu,
   A vida das suas palavras escritas,
      Palavras vivas com que morreu!...
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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Silêncio das Palavras Verdadeiras






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Bem guardadas,
Tesouros irreveláveis,
Á espera de serem articuladas,
Algumas, são por muitos veneradas,
Proferidas por seus donos pouco fiáveis,
Escravos delas e tal como elas articuláveis,
Por aí à solta, de boca em boca libertadas,
Bem acolhidas, por outros insuportáveis,
Pela ligeireza da bífida língua fustigadas,
Á mentira e à verdade indispensáveis,
Doces e leves, amargas e pesadas,
 Alívio, ou doem como pedradas,
São de amor ou detestáveis,
      Só ao silêncio confiadas!...   


E é em silêncio que devem ser ouvidas,
Escutadas com ouvidos livres de asneiras,
Que não sejam muitas delas confundidas,
   Com o silêncio das palavras verdadeiras!...
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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Palavra do que Lido


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Gosto de envelhecer com as palavras que nunca envelhecem,
Quase gosto de não ser conhecido pelos que me conhecem,
E pelos outros que pudessem gostar de me conhecer!...
Leio-os entre as poucas palavras que acontecem,
Conhecem-me pelo gosto em não me ler,
Não leem sobre a vida acontecer,
     E, vazios de mim… desaparecem!...

Gosto de adivinhar secretas leituras,
Das palavras revindas e das que nunca partiram,
Gosto das palavras eternas e das eternas loucuras,
Escrevo-me de alma nua em memória de velhas diabruras,
E aspiro cada partícula de pó que a pó memórias se reduziram,
Procuro-me na roupa das palavras que se despiram,
Visto cada palavra em que vejo velhas ternuras,
Dispo-me da velhice com que se vestiram,
   E rejuvenesço palavras sem amarguras!...

Não sabem lidar com o que não sou…
As palavras dos que se escrevem envelhecidos,
Escrevo nas palavras que não sei porque Ele perdoou,
-Mas sei!...
 Não escreveu Ele direito o que o homem entortou?!...
Há sempre quem escreva sobre os perdões acontecidos,
Perenes, palavras e causas são a causa de alguém que condenou,
Precede a palavra condenada, à inocência dos condenados e perseguidos,
Mas nunca seguidos,
 Aos olhos sociais da lei!...
E, envelhecendo, eu aqui estou,
Lidando com palavras dos não lidos,
Ainda a sorrir para as palavras que te dei,
Só minha palavra, muito minha, não te dou,
   Palavras de minha palavra com que fiquei!...
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Bolbo e a Leitura


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Talvez quisesse esquecer o primeiro livro e o prodígio das primeiras letras em sucessão soletradas!... Todas as árvores maiores chegavam ao céu azul, tão perto dos olhos, esses seus bolbos enxertados a meia dúzia de palmos, acima das primeiras palavras. Nunca se moldara à fantasia de um bolbo mágico a florir por cada leitura, mas era espantoso restituir-se como uma tendência irresistível. Devolvia-se ao esquecimento do nascer e não se lembrava da florescência, apagada pelo género singular do que lia… dos outros, que a escreviam sem a descreverem nos livros únicos sem conta!... Aceitava-se adnascente em perpétuo parto entre o futuro das pétalas imaginadas e o ângulo resguardado sob a folha. Quase se amava ao vislumbrar o gosto aparente desse pré-ponto de vista, quase vegetal, espreitando da folha e da folha da esperança em…
Escrevê-la,
Ao vê-la,
Resguardos escritos,
E descritos… na fantasia de sê-la,
Ser a folha e as palavras reivindicadas;
Depois os gritos,
A voz periférica dos tempos aflitos,
Da aflição do verso,
E do reverso,
Do verso e reverso das folhas rasgadas,
Da maldição dos veios benditos,
Ou o benfazejo dos verbos malditos…
E o crescer do universo...
O voo insaciável da ave de penas escanadas!...
A infância do mito e o mito das infâncias vigiadas pelas letras, pelos vocábulos atentos e a imposição do exercício. Depois veio a anestesia do gosto e do amor e mais amor, indiferente ao tempo, como se não existisse, nem o tempo nem a consciência da razão. Apenas o pensamento aprisionado na sensação oferecida pela misteriosa existência dos outros e de alguém sempre presente, fora e dentro de si, excluída do princípio e do fim do tempo e sua sensação de ausência infligida…
…A eternidade,
E outra vez a vez infantil esquecida,
A identidade…
A perda da vontade,
E a vontade cada vez mais forte de ler-se perdida,
Reencontro com a nova página onde lia promessa de outra página prometida,
E em cada próxima página, a revelação da verdade,
O adiamento,
Sem atraso,
O adiantamento,
A eternidade por acaso…
Toda a cultura adquirida,
O nascer do ocaso,
E da vaidade…
A realidade do bolbo ou do eterno rebento protegido pelo sentido lato das axilas pintadas na árvore milenar, já não tão próxima do céu menos azul. E das partículas de pó, essas letras sacudidas da poeira das palavras que não eram suas, quase à altura da fé enfraquecida no contínuo bolbo cheio de esperança, mas nem tanto...
Sem o espanto,
Nem a conquista do saber,
Incapaz de libertar-se do aprender,
Se alguma vez soubesse do encanto,
Que seria parar de ler,
E ler-se,
Escrever-se,
Partindo do desencanto,
Até ao tempo todo, sem eternidade, da eterna procura do significado do seu ser, do seu pensamento livre, livre da influência das palavras dos outros, do pensamento dos outros e da exclusiva existência dos donos das tendências!...
 E o Bolbo seria a sua história da própria árvore!...

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quarta-feira, 20 de março de 2013

Reciprocidade

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É tão cómodo dizer bem,
Dizer bem até do que está mal,
É tão fácil não dizer mal de ninguém,
Oferecer mentiras perfumadas a alguém,
E agradecer os aromas de mentira igual,
    Por dizerem bem do nosso mal também!...

Ser fraco protegido é tão agradável,
Juntar todas as nossas palavras amáveis,
Contra a palavra da razão desagradável,
Que desconsola a mentira tão amável,
    Com verdades tão desagradáveis!...

Queridas, as palavras moucas,
Desprezadas pelo que sentem,
São beijadas por mentiras loucas,
Apoucadas por palavras poucas,
    Lindas, as palavras que mentem!...
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