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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Açafrão de Outono



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Era perfume que lhe dava,
Perfumadas pétalas do seu amor,
Demasiado tarde viu que lhe faltava,
O perfume único da sua única flor,
 E começou a odiar!...

Nada mais tinha para dar,
Um anjo ainda lhe rogou: -Por favor,
Deixa-me ser a esquecida sepultura da tua dor,
E cobre-me com todas as flores que puderes beijar,
Não deixes que, nem uma só, morra sem sua cor,
Beija-lhes cada pétala que te quer perfumar,
Vê em cada flor, pétalas de mim!...

Cultivava em seu misterioso jardim,
Flores de mármore e um gélido mistério,
Insensível à lisa palidez do cabo de marfim,
Da sua vassoura feita com inodoro jasmim,
Varria pétalas vivas de odorífero adultério,
Sepultura aberta de um vazio sem fim,
  E da flor enterrada em seu cemitério,
    Depois de uma vida fugaz!...

Talvez repouse em paz,
Entre folhas caídas, ao abandono,
Reclamada por tantas dores e sem dono,
Nada sabia sobre se matar a dor seria capaz,
Tímida, renasceu uma pequena flor lilás,
  Poder sensível do açafrão de Outono!...

Talvez antes que a morte aparecesse,
Desaparecesse tanta dor da morte,
  Para que a morte não doesse!...
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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Frio Calor do Amor Tardio

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Quando o frio te procura e te aquece,
Talvez já nada soubesses sobre o calor,
Atravessa-te um arrepio e desaparece,
Temes que seja um calor que arrefece,
Beijo insensível duma sensação de dor,
Um beijo que te gelou e por ti regresse,
    Volte como fogo para gelar-te de amor!...

Este frio de outono que te acaricia,
Talvez seja lume, um sinal de vida,
Uma quente emoção esquecida,
O amor de quem já não sabia,
   Da paixão em gelo derretida!...

Esse frio,
Amor prematuro,
De algum calor vazio,
Aparente, egoísta e vadio,
Esse sol de verão imaturo;
Este Outono, gentil e bravio,
Talvez nostálgico e inseguro,
Folha caída, talvez sombrio,
Seja Luz, calor e futuro,
  Esse amor tardio!...

Quando o frio começa a perder-se por ti,
Manifesta-se numa lufada faustosa e feliz,
Baila entre belas árvores despidas e sorri,
   Vês o bailado de folhas que voam e sorris!...
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domingo, 13 de novembro de 2016

Tempo do Silêncio e das Folhas

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Vejo as minhas velhas folhas caírem,
Em cada folha a queda de um desejo,
Em cada desejo, o adeus de sentirem,
    As tuas caídas folhas que só eu vejo!...

São as folhas que o tempo amontoa,
Amontoadas pelo tempo que passa,
Folhas a quem o tempo não perdoa,
A cada folha que o tempo desfaça!...

É folha a quem o tempo não perdoa,
Como se fosse culpada de ter nascido,
Folha que por si cai e por cair não voa;

Voam velhas folhas por terem caído,
Voa o silêncio que pelo tempo entoa,
    Desfolhado no silêncio por ter vivido!...
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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A Mensageira e a Morte

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Ordenou-lhe que, por si, se adiantasse,
Que fosse à sua frente e cumprisse sua missão,
Ordenou-lhe que o último baque não roubasse,
Por mais vontade que tivesse e que a tentasse,
Teria de cuidar da última réstia do coração!...

Jamais alguém a convidou,
Mal vinda, fez-se convidada,
Sempre bateu à porta e entrou,
Por medo, quase ninguém a notou,
    É o fim do tudo e o inicio do nada!...

O mal inesperado já estava feito,
As primeiras lágrimas desferiram o corte,
Juntaram-se todas as lágrimas no peito,
Choradas pelo coração mais forte;

As lágrimas murchas, lençol do leito,
As súplicas a Deus e à maldita da sorte,
A revolta profunda de não haver o direito,
     De abrirem-se todas as portas à morte!...

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   Truz, truz…
     Já se foi a doença?!...
    Não que isso importe,
    Sou quem o medo pensa,
    Sou a…
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sábado, 19 de setembro de 2015

Partindo... e Ficou!...

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As cores secando,
Desistindo
O olhar sobrando,
As folhas voando,
Caindo,
Sorrindo,
A memória desfolhando,
Luzindo,
Recordando,
Sonhando
O sonho mais lindo,
Regressando
Quase conseguindo,
    Chorando!...

A morte que regressa depois de regressar,
Partira depois da morte, antes de partir,
        E ficou!...
Viera ver a saudade antes de a matar,
 Morreu de saudade antes de se ir,
       E ficou!...
    O olhar,
As folhas antes de cair,
O mesmo amor e a saudade de amar,
O que partiu e o que há, de partir,
      A saudade que há, de ficar!...
      E ficou!...
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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Vento...


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Passa atrevido e animoso,
Uma vezes com vozeirão feroz,
Ou de leve mansinho e manhoso,
Entre elas em movimento sinuoso,
Exalante mavioso e aveludado na voz,
E elas desfolham-se rindo,
Enquanto se vão despindo,
Apressam-se, ele passa por elas veloz,
Abraça-as, beija-as e segue furioso,
Afasta-se e desaparece saudoso,
Não vê as últimas folhas caindo,
Deixou-as nuas de tão airoso,
 E um alento frio as cobrindo!..

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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Bordados Involuntários

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Cruzavam-se em qualquer caminho,
Dos seus caminhos traçados no deserto,
Cada qual, dentro de si caminhando sozinho,
Consumidos por ásperas vendas de bordado linho,
Fitas rasgadas nos olhos fechados em ponto aberto,
E nos olhos bordados,
Relevos desencontrados,
Cresciam atrás de agulhas do bordado mais incerto,
Não eram agulhas de aço a entristecer de desalinho,
Nem o tecido era toalha de altar dos pecados liberto,
Eram veredas, o caminho por toda a solidão coberto,
     Silêncio bordado no coração triste aberto ao espinho!...

Sem desígnios, os espectros transversais,
Bordam-se com a poeira que os atravessa,
Tempestades exaustas morrem nos areais,
A praia deserta e desertos são almas iguais,
    De olhos postos em alguém que as impeça!...

Todos vão passando pelo que passamos,
E não vemos passar quem por nós passa,
Somos caminho único da nossa desgraça,
    E por nossa desgraça todos desgraçamos!...
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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ser Folha...



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Ser aragem,
Ser inesperada,
Invulgar lufada,
Folha e folhagem,
Ser soprada,
Do ciclo da vida,
Para o ciclo da vida,
Ser a viagem,
  Sendo a despedida…
A Primavera esquecida,
Lembrada e triste,
Ser Outono que insiste,
Na memória das cores,
As cores e as árvores,
A matiz dos amores,
   Natureza transversal…
Ser o sopro natural
Ser folha,
Ser árvore que resiste,
Ser a própria vida,
Que mesmo caída,
     Da vida não desiste!...

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