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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

"Inconsolada", A Mulher de um Político

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São tuas preocupações,
Que, estampadas em meu rosto,
Entristecem em meus olhos o sol-posto,
És feliz em tuas longínquas funções,
E tão longe estão nossos corações,
E tão perto, este meu desgosto,
    Minhas secretas desilusões!...

Tão amante do teu sucesso,
Talvez tenhas tudo que querias ter,
São minhas noites claras, o amanhecer,
Com minhas negras olheiras te peço,
E deste meu despertar te confesso,
Quando regressares para me ver,
Também me podes foder,
    Antes do congresso!...

Poupo-te ao favor,
Do que não me sabes dar,
Escolheste outra família amar,
Sem olheiras, olhar de outra cor,
Pinto essas cores por cima da dor,
Para que o mundo possa acreditar,
Nessa tua vontade de me desejar,
Desejo público de fazer amor,
    Antes do comício acabar!...

Procuro em minha solidão,
O pai dos nossos filhos esquecidos,
Procuro votos, quero ganhar a eleição,
Sei que sou candidata à consignação,
E nossa família um pequeno Partido,
Onde nosso amor foi substituído,
Pela imagem sem coração,
Esse teu desejo perdido,
     Minha resignação!...
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sexo Causal...

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Escondemos-te o que sabes desta mágoa,
Do teu amor tão distante que nos magoa,
Procuramos-nos em tua moral de pessoa,
E é um rio que vemos, triste e sem água,
   Leito árido por onde teu Amor se escoa!...

Do sadio Amor dos que te amam te dão,
É Amor nascido ainda antes de nasceres,
Dado à luz, foste a luz dos amanheceres,
Amanhecemos contigo em nosso coração,
     Anoitecemos tristes se triste anoiteceres!...

Como é imensa a tristeza da saudade,
É mais triste quando estás mais perto,
Tão longe te vislumbramos amizade,
Procuramos-te de coração aberto,
E o que encontramos mais certo,
     É uma triste realidade!...

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Tão cego o nexo causal,
Das circunstâncias até ao efeito,
Tão sexo é o hábito do sexo casual,
Do acontecer até ao defeito,
Já friamente contrafeito,
Na podridão social!...
    
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sexo, Moscas e a Sombra do Amor


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Carentes de carinho,
Caros saem os olhos da cara,
Carregam sombras da manhã clara,
Pesados são os olhos em cego descaminho,
Perdidos no anoitecido olhar do seu olhar sozinho,
 Sem ver cair a lágrima que na sombra os aguardara,
     Sonhando encarar os cegos olhares em desalinho!...

Como uma sombra nas trevas da clara razão,
Move-se a luz que olhos perdidos encandeia,
Deitou-se a sombra sobre a luz fraca da ideia,
E antes de ajoelhar-se aos olhos da confissão,
Olhou-se na cara mais triste do falso coração,
    Vendo-se rosto do pesadelo da cara mais feia!...

Quando uma fraca cabeça já por demais perdida,
Pela falta de orgulho que o sexo promíscuo fodeu,
 Pouco resta da vontade responsável já toda fodida,
  Tudo parece amor numa doentia relação distorcida,
     Jamais o Amor será isso que é, e nunca aconteceu!...


Doentes não são as moscas, 
Por um pedaço de merda amarem,
Doentes são as cegas paixões mais toscas,
    Desses doentes, enquanto da merda gostarem!... 

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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Asfixia


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Asfixia!...
Aquele abraço com imensos braços da alegria,
Antes  da fuga espavorida, esbracejada a esmo,
E todas as promessas intensas em demasia,
Como viver antes da morte, em agonia,
    Morrendo sempre pelo mesmo!...

Mais, sempre mais, o céu,
Todo o inferno, o corpo em chamas e a alma,
Banhos em flores asfixiadas, lágrimas floridas, um véu, 
Perfumes cativos exalando essências do pranto e da calma,
Os afagos, a transparência, as mãos prisioneiras da palma,
Os dias nervosos, todos os dias, rezados num só dia...
O diabo, a tentação e a prece sob a prece,
Pedra sobre pedra e o ritual crescente, 
O calor do Sol que o desejo arrefece,
A penumbra envolvente que desce,
A memória da sombra que crescia,
A construção de um mundo só seu e permanente,
Ovais obedientes, fechando-se à inevitável profecia,
A tendência oclusa e a oclusão que para dentro de si tendia,
A liberdade de libertar-se do corpo exterior, suave e incoerente,
O ovo a fechar-se sobre a incoerência, suavemente,
Em plenitude perfeita e singular harmonia,
A consciência da obsessão inconsciente,
O sacrifício da luz e a luz sombria,
A sensação fechada da mente,
E o clique, de repente...
     Asfixia!...

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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Círculo Pendular


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Vertiginosos vínculos pendulares,
Em baloiço de vaivém sem regresso,
São impróprios movimentos angulares,
Em redor de centros comuns que atraem,
Fixam-se à velocidade constante do processo,
E outros movimentos mais ou menos circulares,
Cercando fontes de ilusão em embalado progresso,
Sempre contínuos, indeterminados e sem retrocesso,
Cálculo aproximado do queimor das vertigem singulares,
Que por elas só, tontas de prazer, sobre elas mesmas caem,
Afastando-se do próprio corpo e do eixo à mesma velocidade;
Talvez seja um vínculo circular a circular por fora da verdade,
Cercando a verdade ou verdadeiro prazer no movimento,
Capaz de circunscrever a energia de cada momento,
Com o desperdício do limite em queda da vaidade,
Queda livre num vertiginoso espaço de tempo,
De onde os pensamentos mais loucos saem,
     Sem sair de suas espirais de pensamento!...

É costumeiro o voltar de costas,
E voltar a acreditar que elas se vão voltar,
Isócronas voltas que avançam para recuar,
Recuam escondidas à procura de respostas,
Encontram-nas no recuo que as faz avançar,
Por aí andam ao redor as voltas sobrepostas,
À volta de enlouquecidas ideias expostas,
    Presas a pêndulos de vontade circular!...


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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Bolbo e a Leitura


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Talvez quisesse esquecer o primeiro livro e o prodígio das primeiras letras em sucessão soletradas!... Todas as árvores maiores chegavam ao céu azul, tão perto dos olhos, esses seus bolbos enxertados a meia dúzia de palmos, acima das primeiras palavras. Nunca se moldara à fantasia de um bolbo mágico a florir por cada leitura, mas era espantoso restituir-se como uma tendência irresistível. Devolvia-se ao esquecimento do nascer e não se lembrava da florescência, apagada pelo género singular do que lia… dos outros, que a escreviam sem a descreverem nos livros únicos sem conta!... Aceitava-se adnascente em perpétuo parto entre o futuro das pétalas imaginadas e o ângulo resguardado sob a folha. Quase se amava ao vislumbrar o gosto aparente desse pré-ponto de vista, quase vegetal, espreitando da folha e da folha da esperança em…
Escrevê-la,
Ao vê-la,
Resguardos escritos,
E descritos… na fantasia de sê-la,
Ser a folha e as palavras reivindicadas;
Depois os gritos,
A voz periférica dos tempos aflitos,
Da aflição do verso,
E do reverso,
Do verso e reverso das folhas rasgadas,
Da maldição dos veios benditos,
Ou o benfazejo dos verbos malditos…
E o crescer do universo...
O voo insaciável da ave de penas escanadas!...
A infância do mito e o mito das infâncias vigiadas pelas letras, pelos vocábulos atentos e a imposição do exercício. Depois veio a anestesia do gosto e do amor e mais amor, indiferente ao tempo, como se não existisse, nem o tempo nem a consciência da razão. Apenas o pensamento aprisionado na sensação oferecida pela misteriosa existência dos outros e de alguém sempre presente, fora e dentro de si, excluída do princípio e do fim do tempo e sua sensação de ausência infligida…
…A eternidade,
E outra vez a vez infantil esquecida,
A identidade…
A perda da vontade,
E a vontade cada vez mais forte de ler-se perdida,
Reencontro com a nova página onde lia promessa de outra página prometida,
E em cada próxima página, a revelação da verdade,
O adiamento,
Sem atraso,
O adiantamento,
A eternidade por acaso…
Toda a cultura adquirida,
O nascer do ocaso,
E da vaidade…
A realidade do bolbo ou do eterno rebento protegido pelo sentido lato das axilas pintadas na árvore milenar, já não tão próxima do céu menos azul. E das partículas de pó, essas letras sacudidas da poeira das palavras que não eram suas, quase à altura da fé enfraquecida no contínuo bolbo cheio de esperança, mas nem tanto...
Sem o espanto,
Nem a conquista do saber,
Incapaz de libertar-se do aprender,
Se alguma vez soubesse do encanto,
Que seria parar de ler,
E ler-se,
Escrever-se,
Partindo do desencanto,
Até ao tempo todo, sem eternidade, da eterna procura do significado do seu ser, do seu pensamento livre, livre da influência das palavras dos outros, do pensamento dos outros e da exclusiva existência dos donos das tendências!...
 E o Bolbo seria a sua história da própria árvore!...

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