sábado, 30 de abril de 2011

O Trabalhador


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Trabalhador no trabalho fincado,
Calos de insónia na noite perdida,
Amealhador ganancioso de riqueza,
Obsessão que o passa ao lado da vida,
Febril medo de ignorância incontida,
Avarento de miserável pobreza!...

Trabalhou com afinco viciado,
Em toda uma vida sem descanso,
Não adivinhando seu leito de corno manso,
Agonia insensível de um homem enganado,
Por causa de seu escravo corpo tão cansado,
Não arrefece a cama de marido atraiçoado!...

Segou mil searas infecundas,
Por cada seara fez mil vencilhos,
Com que atou a fome dos seus filhos,
Míngua de pão em cicatrizes profundas!...

Trabalhou o louco com a loucura do medo,
Promessa de ouro e de escravo prometido,
Trabalhador à morte para sempre agradecido,
Propriedade da morte que lhe aponta o dedo,
Julgando o condenado a um alienado degredo,
Escravo culpado por ele mesmo vencido!...

Nas suplicias despedidas frementes,
Brama o vento das searas revoltadas,
Delírio febril por mil espigas roubadas,
Por mil negros corvos pertinentes!...

Em seara alguma ficou seu nome,
Nem ócio algum morreu de fome!...
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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pólvora à Mesa

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De um prato ladeiro,
Escorrem olhos de fome,
Sorvem-se os cacos sem nome,
Cheira a pólvora de um tiro certeiro,
Engole-se a derradeira vergonha por inteiro,
Mastiga-se a consciência com ódio que consome!...

Todos os Homens são Almas de bem,
Todas as mulheres são anjos imperfeitos,
Os sonhos acordados são corações desfeitos,
São insónias servidas à mesa por alguém,
Fome adormecida na cama de ninguém,
Um azedo sabor servido por eleitos!...
Esposas Amadas são anjos perfeitos,
E os Filhos também!...

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

25.ABR.74-Lesa-pátria


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Onde está o Pão prometido?...
Nos bolsos virados do avesso escasseiam as migalhas,
Restos da grande broa bem à vista no bandulho da cultura,
Gorda revolução doutorada de Abril vencedora de mil batalhas,
Até estiveram presos, os coitados, santos mártires da ditadura!...
Quem dá mais pelo registo de uma falsa prisão e tortura?...
Querem melhor símbolo de patriotismo com castigo?!...

Onde está o Pão prometido?...
Os advogados prometeram transformar os cravos em Pão de fartura,
Empanturrando a ignorância com estrangeiro Pão fresquinho da fornalha,
Só faltava a televisão conveniente e a imprensa que ao poder não falha,
Mas depressa se arranjaram abraços entre a autoridade e a ternura,
E das diferentes ideologias extremas nasceram golpes de cintura,
Porque o ouro bem guardado seria prémio vitalício da batalha,
Ora, como a ração é de quem a come e não de quem a talha,
Aqui temos um Portugal de heróis mórbidos de gordura,
Enquanto o Povo definha por esta história de canalha!...

Onde está o Pão prometido?...
Mais de trinta anos de filhos e enteados,
Governados por sucessão,
Bem seguros pela força da Social Comunicação,
Ao serviço dos desejos sagrados,
No regime dos prosélitos apoiados,
Porque interessa é lembrar o regime antigo,
Continuando a prometer o Pão prometido,
Nem que seja em versos por desertores versados,
Como tantos outros à mentira de um passado poupados!...

Onde está o Portugal que nos prometeram?...
Na pança daqueles que a carne do Povo comeram,
Ou nos bolsos dos mesmos, forrados com o ouro do ditador inimigo,
O mesmo que lhes justificou o abrigo,
Nos palácios oficiais, provando a História que não mereceram?...
Hei, grandes heróis que os carneiros elegeram,
Onde está o Pão prometido?!...

Foi este o 25 de Abril que nasceu para salvar Portugal,
Ou apenas serviu para engordar estes doutos senhores?!...
Os mesmos justiceiros heróis que o País devia levar a Tribunal,
Por serem pais da Democracia prostituída que pariu tais estupores?!...

Hei, onde está a igualdade prometida,
Neste Portugal de Justiça falida?...
Sim, ó gordo ladrão, falo contigo:
-Onde está o Pão prometido?...
Quando vais devolver-nos a Vida?...
Pois é, perdeste o teu Portugal antigo,
Deixaste o Portugal moderno sem abrigo,
E, por tão Lesa-pátria, uma dívida suicida!...

Diz-me, amigo…
Onde está o Pão prometido?...
Talvez no luto de uma luta perdida,
Conquistado a um Povo vencido,
Que chora a Igualdade prometida,
Na promessa previamente urdida,
E quebrada a um Povo perdido!...

Por caridade, amigo, diz-me:
-Onde está o Pão prometido?!...

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domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa


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Amanheceu!...
Depois de tempestade tão sangrenta,
Da Cruz açoitada com palavras de fel e vinagre,
Celebra-se o prodígio da Vida em vez da tormenta,
Dada à luz pela Esperança de uma Divina placenta,
Alimentada Luz ao redentor de jubiloso Milagre!...

Por nós passa este Sol nem sempre visto,
Deixando-nos a esperança do milagre previsto,
A Luz,
Ressuscitada da Cruz,
Este calor meigo do Sol de Cristo,
Este crer misto,
Que reduz,
O peso de nossa Cruz!...
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

o Homem

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Todos os dedos da Humanidade são poucos,
Bastando-se num envergonhado resultado final,
Na conta perdida do número de candidatos a Judas,
Descrentes espoliados por pobres crentes loucos,
Vendendo sede em unguentos antigos de fel e sal,
Pérfido néctar servido em acusadoras palavras mudas,
Dogma instituído na sodomia de sagradas fugas,
Forja de cravos peregrinos na cruz sacrificial!...

O Homem!...
Que pelo homem foi atraiçoado,
Pecado eterno que a ignorância corrompeu,
Traição eterna que o Homem não mereceu,
Arrependimento fatal do homem enforcado,
Trinta dinheiros suicidas que o homem pagou,
Ao homem fraco que o Homem atraiçoou,
Traidor amigo, pelo Homem perdoado,
Perdão que sua morte o homem beijou!...

Todo o peso da culpa sobre sua inocência,
Madeiro pesando o sofrimento dos nossos pecados,
Leve pela oferta de Amor aos pecadores perdoados,
Nada pesando na entrega de sua sagrada consciência!...

-Pai!...
Rezou,
-Perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem!...
E à Via-sacra se entregou!

Monta-se o espectáculo e cobram-se ingressos,
Entre o Céu e a Terra aposta-se na crueldade dos cravos,
Acreditar na Justiça da bondade é coragem dos bravos,
Exibe-se o sofrimento de Cristo em sorvos de excessos,
Embriagando os pobres espíritos pela maldade possessos,
A entrada é grátis e só à saída se pagam os pecados!...

Pregado na Cruz dos nossos olhos envergonhados,
Ouvimos nossa vergonha em actos de contrição confessos:

-Pai, entrego-me em tuas mãos,
Exalou o Homem Justo perante o olhar fariseu;
-Está tudo consumado!
E com estas Palavras… morreu!...

Lavam as mãos bem cuidadas os Pilatos,
Em escravas bocetas de epístolas sagradas,
Que sangram das jovens mulheres condenadas,
Marcadas pela cruz pesada de funestos actos,
Por corroídos cravos de luxúria penetradas,
Trespassando carne infecta de úteros ingratos,
Oferecidos ao vício de vergonhosos tratos!


Em cada homem há um triste dom,
Vender a Alma aos prazeres do inferno,
Fugindo ao prazer limpo do prazer eterno,
Crucificar a salvação do Homem bom!...

O Homem lá continua sangrando na Cruz,
Crucificado pelos cravos hipócritas de nossa Luz!...


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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vespa


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Há muita cinta fina,
No papelão do vespeiro,
Volátil verdade no nevoeiro,
Volúvel vespa de dúvida divina,
Envolta por uma diáfana neblina,
Que envolve o corpo verdadeiro!...

Nessa luz de opaca cintura,
Esconde um malogro passageiro,
Fechando os olhos com difusa loucura,
Acumulada na transparente gordura,
Do doentio julgamento sobranceiro,
Obeso julgar de tão pantomineiro,
Infeliz por tamanha agrura!...

Ela é um ele que se mistura,
 No ele de ser ela sem o ser,
Falsa medida de uma figura,
Esmagada sob a sua tortura,
Que mais do que o parecer,
É o nada que a vai suceder,
No vazio de sua ventura!...

Uma picada é desgosto enorme,
É inchaço certo sobejo de fartura,
Encoberto pela verdade disforme!...


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sábado, 16 de abril de 2011

...do Peito

A exaltação emanada do meu peito,
É Poema de liberdade que eu canto,
Melodia aconchegada em teu espanto,
Como se o Verso fosse inverso perfeito,
Eco das metáforas com as quais me deito,
Poesia que te desperta quando me levanto!...

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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O(s) Mentiroso(s)

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Concorrendo-lhe nas veias o vício da batota,
Convenceu verdades e mentiras que encontrou,
Com invencionice que do seu sangue se apropriou,
Circula na falta de vergonha que nunca se esgota,
O sangue contaminado da espécie que o idolatrou,
Enredada culpa em patranhas para evitar a derrota,
Com desfaçatez flexível de uma corrupta cambalhota,
Vestindo, agora, a pele dos carneiros que enganou!

A mentira é uma verdade não encontrada,
Que se esconde nas palavras de um mentiroso,
É compulsiva a lata da vergonha desgovernada,
Deste perigoso doente, por incurável, insidioso,
Pronto para mentir à própria mentira descarada,
Roubando vãs promessas a um povo preguiçoso,
Para lhas devolver em verdades de acto doloso;
São tão generosas suas verdades quando mente,
Confundindo-se naquela toleima sempre crente,
Da desonra comprada com imposto criminoso!...

Há um verme mais decente,
À espera de um cadáver verdadeiro,
Aguardando o seu fiel companheiro,
Um reles corrupto por demais demente,
Que enterrou um iludido País jacente,
Deixando-o sem obra nem dinheiro!...

Porque…
Há cadáveres que pelos vermes lutam,
Entregando-se vivos de corpo inteiro,
Aos vermes que cadáveres disputam?!...
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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Spread

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Governou-se à vista,
Como quem farejou uma pista,
Nas águas evaporadas do alto mar,
Onde cargueiros mentirosos de morta ideologia Socialista,
Foram carregados com antibióticos de outra ideologia peculiar,
Convencendo náufragos Democratas que ajudaram o barco a afundar,
Nos olhos trocados de um descarado mentiroso optimista,
Que tingiu as águas já turvas de um cardume pessimista;
Navega agora a mentira ao deus dará, sem abrandar,
Na direcção convicta do imaginário calculista,
De um polvo cínico e populista!...

Nesta agonia do capitalismo desesperado,
Agitam-se os cadáveres de analfabetos,
Afogados em dívidas sem projectos,
Tentando entender o significado,
De saberem seu futuro penhorado,
No dinheiro fácil dos capitalistas inquietos!...

Abrem-se covas rasas no spread de lucro total,
As mesmas covas onde se enterra o vil metal,
A felicidade fugaz e apropria vida,
Com pás já gastas de cavar desemprego fatal,
Sustento de uma família perdida,
Tentando à fome ser foragida,
Sem oportunidades de renovado sinal,
Perdido na inveja de independência prometida,
De causar inveja à confiança suicida,
Vizinha aflitiva de aflita cegueira igual,
Que, por não verem, depois da vingança homicida,
Lá encherão o bolso aos ricos doutores no tribunal!...
Assim se afunda o vosso Portugal,
Que, por me sido roubado, é meu também,
O mesmo Portugal que ao roubar com desdém,
Colho a míngua de uma velha senhora tradicional,
Que bem disfarçada de solidária liderança intelectual,
Sustenta-se da burrice de um pobre povo que sustém,
As mordomias palacianas de S. Bento e Belém!...

Concedem-se créditos assassinos,
Aos olhos vazios de prazos esvaziados de cumprimento,
Atidos olhares postos num esperado público fomento,
Acreditando na palavra bífida de aldrabões cristalinos,
Comprometedora aldrabice de trapaceiros destinos,
Montados sobre fósforos queimados do orçamento,
Comidos pela gestão criminosa de frios ferinos!...

Pobreza da classe média sem premissas,
É número forte de um activo financeiro,
Valendo à sôfrega mentira rios de dinheiro,
Atravessadas por deputadas pontes levadiças,
Areias de sangue suado, lambido pelo gordo banqueiro,
Sal da economia, tempero hipertenso de todas as cobiças!

O lucro garantido por larga margem,
Só é possível conjugando governantes danosos,
Com políticos hereditários de embustes famosos,
Comprados por polvos do capitalismo selvagem,
Não esquecendo gestores de lucrativa linguagem,
Ao dispor de engenhosos lucros monstruosos!...

Na verdade, compram-se leis à medida dos ladrões,
Vendem-se cordas de forca, pistolas adaptadas e 605 forte,
Voos a pique do investimento em altíssimas pontes da morte,
Implora-se pelo empréstimo para o palácio de todas as ilusões,
Para as férias de sonho e o carro mais caro do que o dos patrões,
Mas, sem o saber, depressa passam de activos com sorte,
A passivos contaminados, já sem lugar nas prisões!...

Resta o Céu onde sempre esteve a terra que os há-de comer,
O inferno das entrelinhas como garantia do crédito sem avalista,
Resta ainda a diferença entre o princípio da compra optimista,
E o pessimismo depressivo de quem para sempre ficará a dever!...

Administram-se analgésicos no cadáver dos penhores,
É esquecido o pão penhorado de um País deixado a arder,
Onde se especula sobre os males de todas as dores,
Contratam-se, então, os mais caros especuladores,
Na especulação do que se pretende combater,
Assegurando o abismo que não pára de crescer,
Entre a nossa fome e a fortuna dos doutores!...

Decide-se castigar o Povo por deixar a miséria chegar a tal estado,
Como se o ouro de Portugal fosse gerido pelo mesmo povo culpado!!!!!!....

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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Lágrima de Lua


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Esta é a história do…
Amor de uma Estrela irreal imaginada,
Que libertou uma lágrima prisioneira da Lua,
Lágrima de Amor que tinha como sua,
A mesma Lágrima que a Lua amava,
Por quem a Estrela sofria apaixonada,
Utopia impossível de quem não amua!...

Próxima de Centauro, rubro de paixão,
A anos-luz da terna e feliz Lágrima lunar,
Espectro vermelho de seu quente coração,
Ardia, a Estrela, pela Lágrima, sem chorar,
Invejando Lua triste de lágrima prisão,
Triste pela Lágrima que iria derramar,
Amor de amante única que jurou amar,
Débil Estrela ameaçando-se de implosão!...

Se a Lágrima da Lua,
Não puder ser sua,
Não será Lágrima de ninguém,
-De mim, não serei Supernova também,
Por de nova ter sido tua!

O mais longo Dia de Sol foi escolhido,
Pela Estrela a quem o Amor cegava,
O mesmo Dia que a Estrela amava,
E no lusco-fusco lhe havia prometido,
Se a Lágrima libertasse do Luar inimigo,
A Estrela com o Dia de Sol seria casada!...

O Sol irradiou de Luz o mais longo Dia,
Ofuscando a Lua que sua Lágrima verteu,
Cega de Luz, seu Amor, caindo, a Lua não via,
Amor que de seu Amor, outro Amor escondeu;
Procuraram-se mas o inevitável destino aconteceu,
A Lua, morrendo de saudade, já chorar não podia,
Pois sua Lágrima, lágrima de tristeza perdeu!...

Se Lágrima da Lua,
Não puder ser sua,
Não será Lágrima de ninguém,
-Serei Buraco negro de mim também,
Tão negro por haver sido tua!

 Lágrima caída no coração do Deserto,
Árido de Amor, de Vida uma miragem,
Sulcou um imperceptível leito incerto,
 E, adormecendo cansada pela triste viagem,
Da Esperança perdida, verteu uma lágrima!...
Encontrando-se de si, lágrima de si, muito perto,
Pequena lágrima da Lágrima e mais lágrima vertida,
Ainda mais lágrimas de saudade e tristeza incontida,
Chorando cada lágrima, uma lágrima mais que chorava,
Foi nascendo um pequeno charco da lágrima derramada,
Um lago que transbordou para a Vida,
Um Rio correndo, quedas de água salgada,
Oceano de lágrimas por uma Lua de Lágrima perdida,
Agonia lenta da sorte desconhecida,
Do seu talismã de sorte finada!...

Se minha Lágrima não puder ter,
Lua, não mais voltarei a ser,
Não serei Lua de ninguém,
Serei cometa frio de mim também,
De gelo por minha Lágrima perder!

Da pequena Lágrima que caiu,
Agora Oceano vivo onde a Vida surgiu,
É imenso espelho da Lua em seu degredo,
Que procura na Noite aquele Amor que ruiu,
A mesma Noite que conhece o triste segredo,
Daqueles dois Amores desencontrados no enredo,
Escrito nas estrelas por uma estrela que explodiu,
Quando jamais a Lágrima da Lua não viu!...

Mas, o Astro-rei, como rei de Luz que é,
Reconhecendo o erro que cometeu,
Culpando-se pelo que aconteceu,
Aqueceu a Terra com Lágrimas de Fé,
Do vasto Oceano evaporou uma porção,
De indivisíveis Lágrimas que pé ante pé,
Encorajadas por fenomenal condensação,
 Subindo nelas, por elas, foram dando a mão,
Içaram-se entre elas e muitas morreram até!...

Muitas cruzaram o Céu,
Ajudadas pela Luz a coberto do breu,
Pereceram todas, só uma sobreviveu!...

A Lágrima perdida para a sua Lua voltou,
A Lua que de felicidade sua Lágrima chorou!...


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